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LADO A

Barbarella acordou tarde para o trabalho, depois de ter dormido bem pouco. Arrumou-se às pressas e pegou o metrô na Estação Engenheiro Rubens Paiva. Ao embarcar viu que Marcos Paulo, seu colega de trabalho, lá já se encontrava, tendo entrado no terminal Pavuna, a estação anterior.

Ela sentou-se ao lado de Marcos, e até tentou conversar, mas o sono anuviava sua percepção. Em determinado momento, pediu licença ao colega e se acomodou no banco, visto que o caminho até a Estação Estácio era longo e dava tempo para tirar um bom cochilo.

No momento que Barbarella apagou, ela lembava bem, Marcos Paulo estava sentado e tinha em mãos uma pasta verde. Ao acordar, não entendeu o que viu: ao seu lado um homem alto e barbudo estava sentado, e de pé estava Marcos, ainda segurando sua pastinha.

Ela olhou perplexa, seu cérebro cansado tentava configurar um cenário onde tal gentileza fizesse sentido. Se hoje em dia é raro um jovem ceder lugar para uma velhinha, por que fazê-lo para um marmanjo? Será que ele estava passando mal?  Terá removido Marcos à força?

Após criteriosa consideração, Barbarella decidiu que o melhor era voltar a dormir. Não vale a pena queimar neurônios com um enigma que ela nem sabe se é mesmo real. Será que, ao acordar de novo, não verá que o Marcos Paulo esteve sentado ali, ao lado dela, o tempo todo?

Ela apagou novamente, ao som das gargalhadas de duas alegres senhoras em outro ponto do vagão, e nunca mais pensou no assunto.

LADO B

O dia começava normal para Marcos Paulo, até a chegada de Barbarella, sua colega de trabalho. Eles sempre voltavam juntos, mas era bem raro se encontrarem na ida. Apesar de ainda estar cedo ela parecia sonolenta, tanto que pouco depois pediu licença, virou-se para o lado e dormiu.

Parecia que aquele estava mesmo destinado a ser um dia corriqueiro para Marcos, até a chegada de uma sonora dupla de velhinhas. As senhoras, ambas na casa dos setenta, estavam entretidas com um papo animado. Dentro daquele vagão existia apenas uma cadeira livre, onde uma das duas sentou.

Como de costume, ninguém de perto cedeu lugar para a outra idosa e Marcos, que estava longe, teve de fazê-lo. A senhora, entretanto, não retribuiu a gentileza. Não agradeceu a Marcos, nem se ofereceu para levar sua pasta, apenas sentou sem nem olhar sua cara e sem desviar os olhos da colega.

Inabaladas pela distância, as idosas continuaram seu despreocupado debate. Em dado momento um homem, que estava ao lado da primeira velhinha a sentar, incomodado com as mulheres falando alto, ofereceu trocar de lugar com a segunda para que elas ficassem perto (e ele, longe delas).

No fim, lá estava Marcos. Em pé e se segurando com apenas uma mão, pois a outra carregava uma pasta verde sem alça. Barbarella acorda, olha pro homem sentado ao seu lado, olha para Marcos, de novo para o homem, se vira e volta a dormir. Aparentemente pensou que estava sonhando ainda.

Marcos achou graça de sua expressão perplexa e planejou depois perguntar o que passou em sua cabeça, mas tal conversa nunca aconteceu.

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A história é real, mas os nomes são fictícios.

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